Padre Carlos Demia, pai dos pobres e protetor de crianças abandonadas…

Um homem que vislumbrava apenas uma direção: a da vontade de Deus…
Padre Carlos Demia.
Padre Carlos Demia.

PRIMEIROS ANOS DE VIDA

Foi em Bourg-en-Bresse, França, que em 3 de outubro de 1637, Carlos Demia nasceu. Ele foi batizado em 10 de novembro do mesmo ano.

O nome de seu pai era Benoit Demia e o nome de sua mãe era Claudine Carteron. Ambos eram pessoas boas, temiam a Deus e também valorizavam a honestidade e a virtude.

O mérito de seu pai parecia colocá-lo acima de sua profissão e ele ocupou cargos importantes, de acordo com sua inteligência e prudência.

Mapa com localização da cidade de Bourg-en-Bresse, onde nasceu o fundador.

Seu pai morreu durante uma viagem à cidade de Tain-l’Hermitage em 1643. A mãe, Claudine Carteron, cuidou dos dois filhos, mas por pouco tempo, vindo a falecer em 27 de março de 1645.

O jovem Carlos Demia foi privado da presença de seus pais desde tenra idade.

Pela posição que tinha, a família Demia teve as vantagens da fortuna, muito cedo nas mãos de Carlos, que ainda viu morrer, dois anos depois, seu único irmão.

Educado por sua tia, Jaqueline Démia, ele estudou brilhantemente no Colégio dos Jesuítas de Bourg, depois em Lyon, complementado por cursos de Direito Civil e Canônico. Ele chegou à grade de Doutor.

Em 1659, no ano da morte de sua tia, aos 22 anos, fez um retiro no Seminário Sulpician de Lyon e, guiado pelo padre Damien Hurtevent, Carlos Demia não teve dificuldade em escolher o estado eclesiástico. Ele foi para Paris em setembro de 1660, no seminário de Saint Sulpice, onde fez sua formação.

Em geral, esses seminários desenvolviam nos seus seminaristas o desejo e o amor da educação popular cristã. Foi ordenado sacerdote em Paris em 19 de maio de 1663.

O INÍCIO DAS OBRAS

Após sua ordenação, seu primeiro apostolado foi com os Padres das Missões em Paris. Ele então retornou a Bourg-en-Bresse, onde logo organizaria conferências espirituais para o clero, visitas às prisões, hospitais e casas dos pobres. No entanto, ele parece atraído pela cidade de Lyon, onde a extensão do trabalho a ser realizado correspondia, sem nenhuma dúvida, ao seu desejo e fervor. Naquela época, sua principal preocupação era a formação do clero e a criação de escolas para os pobres.

Em Lyon, seu comportamento permanece o mesmo: o cuidado para com os pobres.

Durante suas visitas, ele observa a realidade. Como praticar a virtude sem um mínimo de bem-estar? Como pregar Deus a esses pobres famintos? Mas começar por onde? Pela caridade? Ou pela escola? Ou ambos? Sem suspiros ou lágrimas românticas diante dessa miséria. 

Carlos Demia não tem tempo para se lamentar. Ele se tornou o criador das Pequenas Escolas de Lyon, numa época em que os filhos dos pobres desta cidade não tinham possibilidade de educação para lhes oferecer.

Padre Carlos Demia.

Em 9 de janeiro de 1667, a título de experimento, Carlos Demia abre sua primeira escola para crianças pobres na cidade de Lyon, na França. “Esta data deveria ser registrada numa rocha!”. Um ano depois, o sucesso era incrível!

As condições de admissão eram: rezar de manhã e à noite com a família, recitar o catecismo, frequentar a escola regularmente, optar por um comportamento fraterno e sem nenhuma forma de dependência…

OBRAS QUE TRANSFORMAM VIDAS

Carlos Demia, cujas escolas prosperam e são elogiadas, cumpre funções muito importantes, pois sua jurisdição agora é exercida sobre todas as escolas da diocese. De fato, em 12 de dezembro de 1672, foi nomeado Diretor Geral das Pequenas Escolas de Lyon em sua Diocese. Nesse nível, ele se tornou quase um ministro da Educação.

Mas Carlos Demia não parou por aí. O que é verdade para os meninos também é verdade para as meninas. Em 1675, ele abriu a primeira escola para meninas pobres. De 1665 a 1689, a data de sua morte, ele trabalhou incansavelmente nessa grande obra. Ele trabalha, organiza e acompanha as escolas.

Padre Carlos Demia.

A PRIMEIRA COMUNIDADE - IRMÃS DE SÃO CARLOS - E AS NOVAS INICIATIVAS

O ano de 1678 marca o início da Comunidade de Mestras. Foi a primeira comunidade da Congregação das Irmãs de São Carlos, nascida em 1678, embora sua fundação oficial remonta a 1680. Carlos Demia teve a alegria de ver a comunidade das “Irmãs de São Carlos” fortalecida.

Além de sua dedicação à escola gratuita para crianças pobres, ao Seminário de São Carlos para a formação de Padres e à comunidade de São Carlos para a formação das Irmãs, ele dá asas à sua caridade com outras iniciativas, tais como:

– Abertura de duas “lojas de caridade” onde os pobres podem encontrar tudo o que precisam para se aquecer (distribuição de roupas e calçados)

– Visita às famílias que viviam na miséria, levando ajuda… ele amava os pobres. 

Padre Carlos Demia.

TRABALHOU ATÉ O FIM DE SUA VIDA TESTEMUNHANDO SUA FÉ

O que resta dos seus bens, ele deixa em testamento para suas obras. Sua solicitude abraçou todas as necessidades da alma e do corpo, os interesses da Igreja e a santificação do clero. 

Tinha uma intenção pura e, como pai e fundador das Irmãs de São Carlos, ele é, a justo título, chamado de modelo para a vida ativa e contemplativa.

Se permanecermos no nível da análise do comportamento humano, diremos que Carlos Demia era um homem bom, com um coração generoso e sensível, um benfeitor da humanidade de seu tempo.

Além disso, sabemos que Carlos Demia sempre foi um homem de princípios. Ele tinha uma atitude perfeitamente regulada que lhe transmitia ser o próprio reflexo do Espírito de Deus. Isso confirma nossa afirmação de que Carlos Demia era um homem a frente de seu tempo, amigo íntimo de Deus, e trabalhou apenas para testemunhar sua fé.

VIRTUDES E PERSONALIDADE DE CARLOS DEMIA

As principais características que se destacam da personalidade do querido fundador são: uma sensibilidade muito moderada, uma ação firme e assídua. 

Devemos acrescentar que a vida de Carlos Demia tinha apenas uma direção: a da vontade de Deus… permanecendo sempre na presença de Deus, pensando nele regularmente.

E nós, o que dizer desta pessoa santa? Vamos ver:

  • E um homem zeloso cuja vida exemplar,
  • Era um modelo de fervor,
  • Os pobres de quem ele era o pai receberam seus cuidados, seus bens, seu coração.


Talvez esses versos dêem a um melhor escritor, um quadro da ladainha a respeito de Carlos Demia:

Pai dos pobres, protetor de crianças abandonadas, professor dos mais desfavorecidos, ajuda das famílias necessitadas, defensor da Igreja, modelo para os doentes, luz para os chamados à evangelização, amigo do povo…

"É preciso amar o que se faz e não fazer o que se ama"

Padre Carlos Demia

O ÚLTIMO ANO DE SUA VIDA

O ano de 1689 será para Carlos Demia, o último ano de sua vida terrena.

Tomado pela doença, pouco depois,”nenhum medo, nenhuma agitação o perturbam… Seu espírito está em Deus…”

Essa história expressa uma verdade comovente: esse que morre, morre como um santo. Vaincu par la maladie, Vencido pela doença, Carlos Demia deixa nosso mundo em 23 de outubro de 1689, ele tinha apenas 52 anos de idade.

O anúncio de sua morte causou imensa dor a quem o conhecia. 

Vestiram-no com suas vestes sacerdotais e foram organizados funerais solenes: uma longa procissão de crianças em idade escolar, 1.600 alunos de todas as escolas da cidade, um grande número de clérigos, professores e uma “multidão extraordinária”, pessoas de todas as idades e origens conduziram o corpo de Padre Carlos Demia ao seminário “Croix-Paquet”, num local que ele escolheu para ser enterrado, ao lado de seu mestre, Padre M. Hurtevent, a quem ele reverenciava como um santo. Posteriormente foram transladados e permaneceram por muito tempo sepultados na capela do atual seminário Saint-Irénée, sob a majestosa cúpula, onde uma inscrição recordava a memória do Primeiro Mestre dos Pobres.

Em 1981, no entanto, os restos mortais dos dois padres, Padre Carlos Demia e Padre M. Hurtevent, foram enterrados em uma pequena capela da Casa Mãe das Irmãs de São Carlos, em Lyon, Montée des Carmélites.

O LEGADO CONTINUA

As Irmãs da comunidade São Carlos assumiram dar continuidade ao trabalho de seu fundador.

Após a morte de Carlos Demia, a comunidade cresceu rapidamente como se do céu, o Diretor Geral das Pequenas Escolas, estivesse cuidando para que os pobres continuassem a ter quem os amparasse.

Nem mesmo a Revolução Francesa conseguiu destruir seu trabalho. Sua fecundidade continuou no século XIX.

Esta história envolvente, que narra a intervenção Divina junto ao povo mais sofrido, protagonizada por Carlos Demia e pelas religiosas que assumiram o carisma por ele iniciado, pode ser descoberta em maiores detalhes através dos documentos históricos das Irmãs de São Carlos de Lyon.

Padre Carlos Demia.